Gloria de Souza tinha 45 anos e era professora da escola elementar (ensino fundamental) em Bombaim, na Índia, quando foi encontrada pela Ashoka Changemakers. Eles estavam procurando pessoas com perfis de profundos transformadores e empreendedores sociais quando encontraram em 1981 uma professora indiana cujo sonho era transformar a educação na Índia. Ela, que naquela altura já lecionava há 20 anos, dizia que nada lhe entristecia mais do que andar nos corredores da escola e escutar os alunos repetirem em uníssono as cantigas de roda inglesas. Para ela este sistema de aprendizado pela repetição era o som de uma lavagem cerebral.
Foi em uma oficina sobre educação experimental que Glória despertou para as novas oportunidades educacionais. Diante da falta de parcerias de colegas pouco entusiastas e pouco corajosos em uma mudança que sabiam que era necessária, Glória decidiu tentar por conta própria. Deixou de lado os livros didáticos com referências ao meio ambiente e levou os alunos para conhecerem os pássaros e plantas locais, e os convidou a explorar e resolver questões. Nas lições, começou a substituir nomes estrangeiros por indianos, fazendo referências nacionais. Levou os alunos em excursões a monumentos como Portal da Índia para aprenderem sobre arquitetura e história e explorou a democracia por meio de eleições escolares. Os professores e diretores a criticaram por usar seus alunos como cobaias, mas estes responderam com entusiasmo.
Depois de repetidas falhas em convencer a escola jesuíta – onde lecionava – a adotar seus métodos, duas coisas boas aconteceram mais ou menos na mesma época: ela foi encontrada por Bill Drayton, fundador da Ashoka Changemakers e caçador de almas incansáveis pela mudança social, assim como ela – e a persuasão do corpo docente e direção da escola a lhe dar uma chance e expandir seu trabalho para outra escola.
Descobri que o melhor meio para estimular a confiança dos professores era contar-lhes todas as coisas erradas que fiz.
Glória de Souza
No entanto, como a escola jesuíta estava longe de se parecer com o panorama atual de educação na Índia, o verdadeiro desafio seria levar a educação experimental para o sistema de ensino público de Bombaim e ainda além.
Se pudermos ajudar as crianças a aprenderem a pensar em vez de memorizar e repetir, aprendendo a resolver problemas, a serem criativas, aprenderem a ser agentes em vez de serem manipuladas, poderemos criar uma geração que será muito diferente.
Glória de Souza
Em 1981, com a ajuda da Ashoka Changemakers, Glória fundou uma organização chamada Parisar Asha, que em sânscrito significa “esperança para o meio ambiente”. Primeiro ela formou uma equipe para expandir suas idéias e depois de alguns anos ela pôde demonstrar que a sua abordagem de Educação Ambiental aumentava significativamente o desempenho dos alunos.
Por volta de 1985, ela convenceu o conselho de escolas municipais de Bombaim a introduzir a Educação Ambiental em 1700 escolas através de um programa-piloto e, em três anos, quase um milhão de alunos estavam aprendendo com seu método. A matéria foi incorporada ao currículo nacional pelo governo indiano na década de 1980, tornando-o padrão oficial de instrução do primeiro ao terceiro grau.
Em um mundo onde a repetição como base para o aprendizado é um mal comum, as ideias inovadoras e construtivistas, como as propostas por Glória, devem ter lugar de destaque e devem ser colocadas em debate para a reformulação dos sistemas educacionais. O blog vai trazer algumas destas ideias. Acompanhe!
Curiosidade: Glória de Souza foi a primeira fellow da Ashoka Changemakers.